Correndo em direção ao mar

Correndo em direção ao mar

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cartas extraviadas

Meu querido,

Eu não sei se deveria estar escrevendo isto. Estou sendo sincero. É uma insanidade, sei. Só que sinto ser vital, ser essencial o que se dirá.

Loucura... Mais um ano termina. O que mais chega ao fim?

Eu escolhi te abandonar. Você há de concordar comigo que motivos, de sobra. Eu não precisava daquele sofrimento. Eu não merecia tamanha dor. Era inútil cultivar tanta mágoa em meu coração. Eu mereço respeito. Porque eu sempre te amei. Nunca lhe quis mal nenhum, nem a nenhum dos seus amados. Pelo contrário. Sempre lhe quis bem até demais, e em prol disso sempre me sacrifiquei pelos seus.

Quando te conheci era uma mente perdida. Você também. Nossos espíritos se chocaram, e se metamorfosearam em uma só alma que, prometíamos, seguiria fundida “para o resto de nossas vidas.” Um pacto. Selamos?

Selado ou não, este pacto tem me perseguido incessantemente nos últimos tempos. Acho que meu peito não suportou a idéia de uma quebra tão abrupta e absurda deste acordo.

Outro dia passei perto da casa de sua avó, na Pampulha, o nosso refúgio oriental, e lembrei de todas aquelas tardes maravilhosas, em que dividíamos tudo. Entristeci-me profundamente. E só conseguia chorar. Um pranto interior, mas que doía muito, porque me encharcava.

Não consigo mais freqüentar serenamente o Palácio, te vejo em todos os vértices, em todas as arestas daqueles salões. Uma tensão constante. A qualquer momento você apareceria e haveria um enorme constrangimento. O que eu quero mesmo é poder ser novamente sereno ao teu lado.

A Praça do Papa já não existe mais. Perdeu-se com tudo aquilo que construímos.

E todas as letras daquele café se embaralham, é tudo muito confuso, e cada carro que passa, emitindo seus gases e suas fuligens, me faz lembrar você.

O meu celular está vazio. Oco. Um vácuo.

Minha vida anda um vácuo.

Meu coração anda um vácuo.

Eu estou farto de nutrir em mim coisas que não me fazem bem, que só servem para me aprisionar, para me consumir ou para me esgotar. Não sei se eu que nutro, ou se o outro que me alimenta. Sei que tenho fome, e preciso fazer algo com esta força faminta que se desenvolve.

Não sei se você pode me alimentar, mas tenho fome de você. Da sua presença, do seu carinho, do seu toque, da sua virilidade, do seu jeito único de ser homem.

Não tenho raiva dela. Ela tomou o caminho natural quando se tem fome de alguém. E ela também tem fome de ti. O que fazer com isto?

Eu quero que sua filha seja um anjo.

Eu não converso mais com ninguém. Conversar perdeu o sentido, depois de perder suas palavras.

Eu penso em você o tempo inteiro. Queria que você estivesse ao meu lado. Queria compartilhar com você minha vida. Queria estar com você sem limitações, sem barreiras.

E quando esta saudade se torna insuportável, sempre me pego olhando a lua, seu astro predileto. Penso em ti, um lobisomem frágil.

Eu não sabia que saudade doía tanto. Acho que saudade é até capaz de matar. Acredito que morro um pouco a cada dia sem você.

Não sei como anda sua vida. Com quem andas, quem amas, com quem te relacionas, se voltastes a viver como no passado, se está com ela, se sofres, se amas, se sentes minha falta, se me ama como amo a ti. Interessa-me tudo isto, mas tento me afastar de toda esta importância.

“Sou forte como um cavalo novo com fogo nas patas correndo em direção ao mar.”, digo sempre. É o que tento ser, e tenho conseguido.

Quis apagar você de minha vida. Estou tentando, mas não sei se quero.

Sei, porém, o que não quero, e não quero a situação a qual fui exposto, as coisas que ouvi, o sofrimento que passei.

Sinto muito, mas você pouco se importou comigo. Você não cuidou deste amor. Você não cuidou desta amizade. Você não cuidou desta devoção.

Sei que há dificuldades. Sei que com ela você teve uma filha, o ser que você mais ama na vida. Não sei, entretanto, se isto é uma dificuldade grande demais, ou se você a transformou em uma barreira intransponível, por medo de tudo o que poderia vir.

Não quero alguém que tenha medo ao meu lado (“Sou forte como um cavalo novo...”).

Ou quero pelo menos alguém que sinta medo, e com quem eu possa compartilhar este medo. Alguém que não tema enfrentar seus medos. Você? Não sei.

Acho que fui aberto demais. Como nunca fui. Sei que você chorou por mim. Gostaria de poder entender seu pranto. Gostaria de ter segurança a respeito do que você sente. Gostaria que você fosse uma pessoa mais segura.

Mas eu gostaria de tanta coisa na vida...

Enquanto apenas desejo, gostaria muito que você estivesse aqui, a 1 e 23 da manhã, com seu sorriso hipnotizante, com sua voz tranqüila, com seu corpo macio, e apesar de toda a força impetuosamente sentimental que quer romper dentro de mim, ficar apenas do seu lado, olhando nos teus olhos e acreditando que o amanhã será melhor.

Preciso de você. Mas se for como é, não.

Socorro, por favor.

Não aguardo resposta, se resposta não houver.

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Meu querido,

Hoje eu quero me reconciliar com você. Calma, sei que não há mais verão para nós. O frio já não me maltrata mais as pontas dos dedos. Já me acostumei com o inverno. Quando digo reconciliar, quero dizer que já superei todo aquele inferno pelo qual passamos nestes últimos meses.

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Hoje há um poço de felicidade em meu coração. É a prova de que o Sol sempre nasce, impreterivelmente, por volta das 6 da manhã.

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