Correndo em direção ao mar

Correndo em direção ao mar

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Noite

Era madrugada. Eu estacionei em frente ao seu prédio. Ele me perguntou se eu desceria, eu hesitei, tendencioso, na verdade eu quero, mas há muito champanhe na minha cabeça e muito torpor nos meus sentidos, então dorme aqui, que mal há? nenhum, amanhã eu acordo verdadeiramente cedo, basta o sol nascer, problema nenhum.

Eu tranquei o carro, ele abriu o portão do prédio, eu entrei, subi as escadas logo atrás dele, que tropeçou relapso num degrau sorrateiro, parece que há bastante do embriagamento em ti também, não, é costume, de queda? não, de ansiedade.

Ele abriu a porta do apartamento, sugeriu com os dedos que fizéssemos silêncio e me conduziu sem demora para a insanidade do seu quarto, fecha a porta, e a toalha? do lado de dentro, é uma baderna, sei, você dorme no colchão, comigo, eu te deixo ocupar a cabeceira, eu me inverto, quer uma bermuda? não, prefiro de cuecas, sinta-se a vontade.

Ele me falou que não queria falar dos fantasmas, que eles o assombravam ainda, mas que ele não mais queria o pavor daqueles espectros. Deitado, ele acariciou minhas pernas, e eu, deitado, acariciei seus pés. Suas mãos certeiras acariciaram minhas nádegas firmes, invadiram a clausura da minha cueca, os dedos roçaram meu ânus trêmulo e ele tentava alcançar meu pênis rígido e vibrante. Cuidado, desculpa, é melhor dormirmos, não precisa se desculpar, eu acho até prazeroso ser livre, então seja, é o álcool que me deixa hesitante e você ainda povoa minha sanidade com porquês e dúvidas retóricas.

Ele levantou do colchão e apagou a luz. E repetiu calma e solenemente, como que seguindo um ritual, o protocolo daqueles carinhos. Ele se deitou ao meu lado e me abraçou com olhos, braços e pernas. E eu cedi. Eu lambia e chupava o seu sexo compulsivamente e havia gosto de macho naquilo. A minha saliva transbordava da minha boca e eu me sentia mais homem a cada bocada. A sua glande conversava com a minha garganta e era como se houvessem pirilampos na minha laringe. De súbito ele me pôs de quatro e tentou me penetrar. E eu o deixei conduzir meu corpo, como numa dança. Eu quero você, seu cu, seu de dentro, vem, me marca, me ocupa, me arrebenta de gozo, me fode, para. Desculpa fazer isso com você, mas eu não consigo. Tudo bem, não fique nervoso, é melhor dormir.

Eu dormi um sono tempestuoso e agitado. Eu podia sentir o respirar profundo e compassado daquele homem e, por vezes, naquele colchão estreito, nossos corpos se chocavam e se desvencilhavam, num ballet precário, mas sublime. Dormiu? não, é difícil dormir assim, como? assim.

Eu acordei pelo nascer do sol, esperei o despertador tocar, fiquei um tempo do lado daquele corpo que dormia leve, suguei um tanto aprazível daquele calor de vida, levantei-me, coloquei minha roupa, debrucei no chão ao lado do colchão, eu vou trabalhar, não vai, que crueldade, são 6 e 20, você me acha desprezível? de forma nenhuma, vá, nos vemos a noite, não te levo a porta, não precisa, bom trabalho, merda, bons trabalhos, um beijo, outro.

Com minha mochila nas costas, desci as escadas, sai pelo portão, entrei no carro e dirigi até o trabalho ao som daquela música antiga que tocou no rádio a 5, 6 anos atrás.

Minha cabeça estava naquele corpo que havia ficado entorpecido no colchão. E de pensar no que eu quis, mas não me permiti fazer, pensei que havia sido bastante cruel, não só com ele, mas comigo mesmo. Meu sexo concordou. Decidi esperar que ele me ligasse ao acordar.

E foi assim. Ele me ligou, bom dia, bom dia, eu quero me redimir com você e comigo, eu quero ir a sua casa, cozinhar para você, conversar sobre a simplicidade da vida e depois trepar até que a exaustão seja algo inalcançável, então vem, eu vou.

Entrei no carro, e dirigi cantando até o momento em que aquele caminhão cruzou imprudentemente a avenida, tentei desviar, choquei-me contra a mureta de segurança, que se despedaçou, permitindo que meu carro despencasse de uma altura de 15 metros, estraçalhando-se naquele córrego raso e mal cheiroso. E eu morri contente enquanto ele me esperava naquele colchão estreito.

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