Correndo em direção ao mar

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Os três homens

Eram cerca de 23 horas daquele sábado estranho. Ele não sabia. Mesmo assim foi. Chegou, aguardou pacientemente. Entrou. Lá nada mais do que almas vazias. Um questionamento: “Será que elas sabem por que existem, meu Deus?” Ele tenta ser alguém que ele não é, gostaria de poder agradar. Agradar o que? Ele não sabe, mas imagina.

Ele detesta aquela condição a qual se lançou. Detesta aquele cheiro de cigarro, aquelas garrafas flutuantes, aquele barulho de percussão. Ele (absurdamente) pensa que gostaria que todo aquele lugar fosse varrido por uma epidemia qualquer. Ele se conforta imaginando a completa destruição, o caos, os destroços daquele antro, e a morte de toda aquela corja.

De repente cai em si e pensa que é novo ainda, e que conseguirá superar.

Ouve coisas. Desinteressado ouve as imbecis que conversam de assuntos ainda mais imbecis que elas. Uma proeza. Aéreo, atenta para as vozes de macho que arrombam seus ouvidos, falando de assuntos ainda mais machistas que eles.

Eles eram três. Falavam de veados. Gesticulavam, usavam seus corpos viris ao mesmo tempo em que urravam com vozes imperativas. Ele pensa que em um universo tão apático, um pouco de criatividade poderia salvar alguns minutos de sua vida.

Imagina os três homens nus envolta dele. Excita-se ao ver que é bem menor que eles. Mais frágil. Vulnerável. Adora esta condição. No olhar deles, ardor e destruição.

Ele enlouquece apenas pela possibilidade de ser queimado e destruído.

Ele deseja que aquela tensão dure o tempo de um gozo.

Dura infinitamente. Pensa: “é vantajoso usar a imaginação.”

Repentinamente os três homens lançam-se sobre seu corpo esguio. Eles se esfregam contra ele, mordem suas carnes, lambem seus buracos, cospem na sua face, e penetram violenta e animalescamente qualquer espaço que clame por prazer.

Aquilo se estende por dias, meses, anos. Ele já perdeu até a noção do tempo.

Ele ri compulsivamente, chega a pensar que vai morrer. Pede para morrer. E grita, pede cada vez mais, não consegue se contentar com nada, tudo é muito pouco!

E o ritual continua (perpetuamente?), ele é apertado contra aqueles dorsos fortes, espancado por aqueles membros duros, arranhado por unhas leoninas. Ele quase não tem forças. Ele sofre, e adora.

Os três homens são cruéis. Eles deliram porque subjugam, e ele se emociona por ser subjugado.

Ele é subjugado como um bicho. No meio daquele turbilhão em tecnicolor ele vislumbra a imagem de três selvagens monstruosos que caçam um veado campeiro. E chora, porque é a coisa mais delicadamente bela que ele já viu.

E no momento daquele choro os homens despejam uma enxurrada de fluídos em seu corpo magro e pulsante.

Ele grita, um grito ensurdecedor. Parece que sua existência foi expandida a um plano de felicidade inalcançável.

Ele está no chão. Os homens de pé, arqueados, arfantes, molhados. Guerreiros. Vencedores.

Ele se contrai por alguns segundos, e em seguida se abre, como uma flor que encontrou sua primavera.

Os homens se agacham, deitam-se ao seu lado, e o abraçam. Não sabem de onde vem aquela vontade de proteger o que eles acabaram de destruir.

Ele então goza freneticamente. Se debate como num estado de convulsão. O grito não cessa.

Os homens o acalmam delicadamente, como se aquela flor que se abriu fosse a última possibilidade de salvação.

Eles morrem juntos, emaranhados, como víboras gigantescas ao se acasalarem.

Desperta então para a realidade. Vê-se no mesmo lugar de antes, naquela mesma condição execrável. Acredita, porém, que um pedaço singular de sua existência foi salvo. Ainda que por alguns minutos.

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